domingo, 30 de novembro de 2008

José Saramago - A humanidade não merece a vida.





















*Trecho da sabatina a José Saramago a Folha de São Paulo em 28 de novembro de 2008.

A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que
as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a enfrentar... Mas não é só isso. Essa raiva que há em mim, uma espécie de raiva incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem.
O animal para se alimentar tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto, se fizermos um cálculo de quantos delinqüentes vivem no mundo, deve ser um número fabuloso. Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras – no plano privado e no plano público.


... Coincidentemente recebi hoje, e-mail de um amigo onde dizia:
Há algo de errado com o ser humano q deixa seu irmão morrer e ainda nem faz caso disso. A individualidade egoísta, a cegueira para com aqueles sem condições sequer de se cuidar. Mas qdo a questão é dinheiro, a incoerência abunda, capitaneadas por aqueles sem consciência, q só vêem o "mercado", q se auto-regulariza (?!), q consideram as instituições e as empresas acima, mais importante do que o ser humano. Nesse século não há mais lugar para tanto individualismo! É preciso unir-se para dividir e amainar as dores e tb para celebrar a vida e permitir a expansão da consciência. E o respeito e a compaixão para com o próximo é a primeira receita para um mundo melhor.

"Vou fazer um slide show para você. Está preparado? É comum, você já viu essas imagens antes. Quem sabe até já se acostumou com elas. Começa com aquelas crianças famintas da África. Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele. Aquelas com moscas nos olhos. Os slides se sucedem. Êxodos de populações inteiras. Gente faminta. Gente pobre. Gente sem futuro. Durante décadas, vimos essas imagens. No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto. Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados. São imagens de miséria que comovem. São imagens que criam plataformas de governo. Criam ONGs. Criam entidades. Criam movimentos sociais. A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza. Ano após ano, discutiu-se o que fazer. Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucederam nas nações mais poderosas do planeta. Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o problema da fome no mundo. Resolver, capicce? Extinguir. Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em nenhum canto do planeta. Não sei como calcularam este número. Mas digamos que esteja subestimado. Digamos que seja o dobro. Ou o triplo. Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo. Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse. Não houve documentário, ONG, lobby ou pressão que resolvesse. Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia."


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