domingo, 16 de outubro de 2011

Foi um Rio Apa que passou em minha vida...

Wilson Rio Apa e Karin van der Broocke,  nas dunas de Florianópolis, encenando A Paixão de Cristo.



Dias atrás, trocava com o Zé Marcos (José Marcos Lopes) no FB e ele falou que estava descendo a Floripa para fazer uma entrevista com o Wilson Rio Apa.

O Zé não tem ideia da montanha de lembranças e sentimentos que detonaram como avalanche. Fiquei feliz e eufórica pela memória alcançar novamente essa  parte linda da minha vida.
Na infância, tive o privilégio de conviver, por alguns períodos de férias escolares com o Apa, sua mulher Esther, os filhos Kim, Thor, Suzi (que tem outro nome), mas assim a chamávamos, o Opa e a Oma, que eram pais de Esther e todos viviam na Ilha das Cobras.

Nada ou quase nada tenho na memória sobre a infância e talvez, essas convivências, sejam as únicas que aqui ficaram.

Antes de tudo, ir para a Ilha das Cobras era a glória, lá eu me encontrava com a paz, com a alegria, o carinho, as brincadeiras, a infância em sua plenitude!

Os primeiros passos no experimento da liberdade e a paixão ou necessidade que dela, até hoje carrego, nasceram lá nas margens da ilha quando eu ia absolutamente só, caminhar sobre as pedras em busca de ostras. O encontro do meu eu com o universo acontecia ali quando o vento me acariciava e em parceria com o barulho do mar, produziam as mais belas músicas!

O astro rei brigava com as camadas de Hipoglós sobre minha pele. Certamente ele queria me emprestar as estrelas do céu para enfeitar-me com sardas... Os meus pés descalços criavam asas e saltavam como que numa dança sobre as pedras, de mais nada eu precisava além de um saquinho de sal, outro com limão e uma faca que ia enfiada na lateral do maiô, eram  o suficiente para navegar por aqueles momentos que permitiam observar e concluir por mim mesmo o tamanho da vida ou do envolvimento que necessitava ter para retirar e temperar os adoráveis moluscos!  O discernimento sobre a liberdade, o tempo, a vida e minha insignificância diante daquela imensidão, era de fato, a glória!

Dia e noite brincávamos muito e a felicidade me inundava, mesmo nas horas de pânico quando Thor e Kim se escondiam na mata ou surgiam de dentro do mar munidos de um imenso lençol branco e uma vassoura; escondiam-se por baixo do tecido, hasteavam alto e o balançavam para  pensarmos  que era o fantasma da ilha rsrsrs... Como era bom... Naquele mesmo paraíso ganhei o primeiro beijo na bochecha, de um menino...
Oma e Opa que cuidavam da ex- cadeia que virou hospedaria preparavam uma sopa de tartarugas, tão saborosa quanto as suas existências.
Apa e Esther tinham o dom de contar histórias e estórias que faziam nossos olhos brilharem!

A vida caminhou um tanto a mais e lá por minha adolescência, mocidade ou sei lá exatamente quando, reencontrava a família toda nas encenações da peça A Paixão de Cristo que o Apa dirigia. Em princípio era no litoral do Paraná, depois, nas dunas de Floripa, pois se mudaram para Santa Catarina. 

Uma das apresentações que me lembro muito bem foi em Alexandra e ficou marcada porque tive a companhia de um grande amigo, o Hermann Dietrisch. Hermann era uma figura sui generis, beirava os 80 anos e era dono de uma juba farta e de uma barba que de tão brancos pareciam neve. Ele era um vendedor ambulante de livros, vivia em minha casa e quando eu não estava, ele me deixava de presente, maços de mato enfiados no trinco. Seus braços sempre tinham como extensão,  duas sacolas abarrotadas de livros... Enfim, lembro bem porque uma Senhoura da corte matou uma abelha que voava próximo ao seu rebento e quando a dama liquidou o inseto, Hermann,  literalmente, virou num bicho.  Acho que nunca mais em sua vida, aquela mulher conseguiu matar sequer, uma mosca!

Tudo era muito bacana, acontecia um acampamento coletivo, fazíamos ensaios e as marcações sempre dirigidas pelo mestre e seu assistente, o Cristovão Tezza. Kim, Thor e Suzi, igualmente apoiavam para que tudo saísse bem marcadinho até o dia das apresentações daquele teatro sem palco. O Cristovão era Jesus, que alem de ótimo ator, tinha feições semelhantes a imagem do que se imagina Jesus.

Resumindo, a família Apa,  foi e sempre será um mar de flores e aprendizados  em minha vida. Meu eterno respeito e Karinho a cada um deles. Mesmo à Esther e Suzi que já não caminham mais por aqui.

Wilson Rio Apa por Alexandre Mazzo.

Ao Zé Marco, meu agradecimento especial por ter proporcionado tão bela viagem no tempo! Cumprimentos pela matéria que deve ter sido uma delícia de fazer. Deixo o link da publicação na Gazeta do Povo,  elaborada por Diego Ribeiro, José Marcos Lopes, com imagens de Alexandre Mazzo.

http://www.gazetadopovo.com.br/entrevistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1180956&tit=Perguntem-ao-Rio