terça-feira, 23 de junho de 2009

um ídolo em Congonhinhas

Ontem estive a trabalho numa cidade do norte velho do Paraná chamada Congonhinhas. O nome, vem da planta Congonhas, um “substituto” da erva mate.
Fui para fotografar a inauguração de uma Biblioteca Cidadã. Um projeto interessante que acontece entre municípios de pequeno porte, e o governo do estado.
Vi pessoalmente o atual presidente da república pela primeira vez, por volta de 79 /80. Foi lá no ABC paulista num movimento a céu aberto. Vestia camiseta de malha branca e calça surrada. Tinha menos massa corpórea, os cabelo e barba eram grandes e bem pretos. Não recordo exatamente qual era o fato daquele burburinho. Havia um palco de madeira abarrotado de políticos e em frente, um mar de metalúrgicos. Luis Inácio em meio a galera subiu de repente num caixote de madeira que metalúrgicos/sindicalistas improvisaram e começou a discursar.

Na segunda vez, veio à Curitiba através do PT quando se candidatou a presidência da república. Remodelado, vestia um terno cinza, tinha a barba e cabelos aparados. Corpo mais entroncado, os olhos brilhavam e empolgadíssimo respondia simpaticamente a todas as perguntas dos jornalistas até não restar mais dúvida alguma, todo animado ainda ficou para um papo pós entrevista.
Nessa coletiva que foi em um hotel local, o PT produziu um fundo bonito colocando as bandeiras do PT e do Brasil atrás dele. Fiz fotos lindas, entre elas, brinquei muito com o reflexo da bandeira do BR num copo de água com gás que estava sobre a mesa. Aquelas e as outras fotos renderam várias capas de jornal.
Se o encontrei em alguma outra pauta não lembro, mas as que, de alguma forma marcaram, foram essas duas e a de ontem em Congonhinhas.

Fomos de carro, a viagem cansativa porém lindíssima pela oportunidade de ver o campo e as plantações de milho, trigo e café. Com direito a desfrutar dos tons do por do sol lá na linha do horizonte que eu tanto adoro.
Hospedamo-nos em Cornélio Procópio, cidade um pouco maior e distante 45 km de "nhinhas", por questões de hotel. Fiquei no Midas que tinha um chuveiro a gás maravilhoso, no entanto depois do primeiro banho precisei mudar de ap. pois talvez por falta de vazão da água, inundou o box e o quarto inteiro kkkkkk . No quarto da jornalista idem e no da Secretária também com problemas de encanamento... Mas que o chuveiro era bom, era!

Acordei 07h30min, outro banho gostoso, café e simbora trabalhar.
Chegando ao lugar da inauguração numa praça pública, tudo estava cercado por carreiras de grades paralelamente perfiladas com distanciamento de 3 metros entre elas . Vários moradores da região chegaram bem cedinho para ver o "deus" Lula...
Acesso negado ninguém podia passar das grades, nem mesmo os secretários de estado, envolvidos no gerenciamento do projeto. HORASSSS de espera, para que a segurança local e policia federal tivessem certeza de que nenhum terrorista ou bomba haviam sido plantados ali.
rsrs... Essas cenas são interessantes aqui no nosso país... No Japão, os policiais andam desarmados e antes de irem a campo, passam por todo um preparo psicológico e emocional, fazendo vários cursos, entre eles ikebana... Desenvolvem um outro tipo de poder, enfim...
Sem aviso prévio as pautas foram trocadas e a inauguração que estava marcada para iniciar as 11:00 horas, só foi acontecer às 15:00. Na pequena cidade não havia restaurante, bar ou lanchonete abertos por que o prefeito havia decretado feriado em razão da visita do Silva. As mulheres do cerimonial de Brasília chegaram bem mais tarde. Faziam muita pose e logo percebi na fisionomia e postura delas um excessivo sentimento de poder que lhes causava pálido gozo ...
Mandaram a secretária da cultura (genitora do projeto), o de obras , o de ciência e tecnologia e o diretor da biblioteca pública liberarem a sala de estar da tal biblioteca a ser inaugurda, sem deixar nenhum pertence ou lixo, como garrafinhas ou copos descartáveis quando ele chegasse. E a mim, comunicaram que estava impedida de ficar lá sem credenciamento. Houve uma falha do cerimonial de Curitiba que esqueceu de enviar o nome da repórter e meu para incluir na lista de "acesso livre".
Lá de cima do pedestal de poder que interiormente se colocavam,
as luletes de Brasília, com aquele mesmo gozo pálido, insistiam em falar que eu não teria permissão para fazer a cobertura... indagavam-me a todo instante se eu era mesmo fotógrafa profissional e se estava de fato, a trabalho. Na tentativa de aterrorizar, diziam que a imprensa ficaria lá fora no chiqueirinho e quem sabe, por um súbito ataque de bondade, eu poderia no máximo, ficar lá, iam ver rsss... Cacete, que circo. É divertido e ao mesmo tempo um porre, ver o que o sentimento de poder faz com as pessoas... Isso me parece uma boa medida para se determinar tipos de comportamento humano.
A premonização unânime delas e dos seguranças, era a de que não haveria liberação, mas o veredicto final seria dado pelo fotógrafo oficial do planalto.
Ok, fiquei na área, conversei com várias pessoas que tinham ido lá para ver. Uma delas muito engraçada disse que todo aquele cercado parecia um zoológico e que ela se sentia do lado de fora vendo a agitação dos bichos.


Depois de muita espera, fome e boa dose de paciência, "deus" chegou. Em meio a muvuca toda, avistei o fotógrafo, furei a segurança e segui em linha reta até ele, disse rapidamente o que ele precisava entender e pude entrar. Os seguranças e as luletes ainda quiseram me barrar, o fotógrafo fez um sinal com a mão de PAREM, levantou o tom de voz e falou: "ela está comigo", estendeu a mão a frente, dizendo "por favor, entre". Ele compreendeu o porque de estar ali, foi simpático e muito gentil, nada a ver com a figura terrível que pintaram. Para decepção das meninas poderosas e dos seguranças, fui a única fotógrafa a acompanhar toda visita lado a lado, além do oficial do presidente.
Certa altura do campeonato, vi barrarem meu amigo e fotógrafo Arnaldo Alves, fui de encontro a eles e disse que estávamos trabalhando juntos... Liberaram Arnaldinho também! Voltando ao Lula...
Ontem vestia branco e jaqueta preta. Estava limpo e impecável. Coisa rara se manter assim nessa região, pois a terra do norte pioneiro é de um vermelho que impregna por tudo.
No olhar dele não há mais o tesão de outrora, era o oposto de tudo. Nenhuma entrevista, nenhuma palavra. Completamente calado.

Vi apatia, impaciência e desânimo para o corpo a corpo ao ter que iniciar aquele velho praxe político de cumprimentar e beijar crianças e velhinhos emocionados. Se misturar ao povão parecia um sacrilégio. A obrigatoriedade comportamental já deve ter estourado o saco dele há muito. Está robótico, aparentando medo e quem sabe até certa fobia dos fãs e iguais de antigamente, que o elegeram presidente.
Pessoas muito simples que conversei antes do agito geral variavam numa faixa etária de 3 a 86 anos... Havia dois irmãos cegos, um deles, quando sentiu ou ouviu que a barulheira se aproximava, pegou e acariciou o braço de um segurança achando que era o seu ídolo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Uma foto(ou algumas, nesse caso) falam por milhares de palavras, nao? e' compreensivel o cansaco e a impaciencia, 8 anos nesse ritmo esbugalha um ser humano normal. Lembra do Clinton qdo foi eleito? percebeu a diferenca qdo terminou seu mandato? (que pena que nao pode se candidatar de novo, ne'?) mas voltando `as fotos, gostei de ve-las, e de ler teu comentario. Mais uma vez parabens pelo teu blog. Um dia eu monto o meu, a ver...
PACO

luciano merhy disse...

É inegável o carisma e a humildade do Presidente. Gostei de tudo, ficou a vontade de mais, o sonho continua vivo. As fotos ficaram fantásticas, conseguiram traduzir o momento. Parabéns, brilhante trabalho. Está convidada a visitar a cidade novamente, se possível enviar arquivo de fotos.
lucianomerhy@yahoo.com.br

JAIME ANTONIO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JAIME ANTONIO (GORDO) disse...

Primeira parabéns pelas fotos.
É bom saber que gostou desta maravilhosa cidade, pois é pequena, mais acolhedoura, com um povo simples e revestido de honestidade e determinação, sendo assim, nada mais justo que a presença de um presidente que teve como bandeira a origem humilde. Amo minha cidade.